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Entrevista com André Carvalho - Site O Baterista.com


André Carvalho é um colega baterista de muitos anos, da época em que trabalhou como editor na Modern Drummer.

Ele criou um site que está cada dia mais bacana, material de primeira, como não deixaria de ser sendo algo feito por ele, onde sempre quer ajudar a enriquecer o meio musical baterístico.

 

Gostaria de ajudar da maneira possível que tenho em mãos a divulgar seu site, pois ainda conheço gente que não conhece este importante trabalho quando comento, e queria que a galera conhecesse.

Logo abaixo segue a breve entrevista que fiz com ele, então leiam, conheçam seu trabalho e aproveitem o que ele tem oferecido para todos nós.

 

Daniel Batera - O que é para você o site OBaterista.com?

André Carvalho - O site, no início, foi uma maneira de continuar fazendo uma coisa que gosto de fazer: falar com bateristas a respeito de música, música vista através da bateria. Trabalhei por três anos e meio na revista Modern Drummer (fui redator chefe entre 2005 e 2007) e, quando fui demitido não queria parar de ter essas conversas com os bateristas. Essa foi minha principal motivação para colocar o site no ar. Com o passar do tempo e o crescimento do site, percebi que o site era maior que minhas intenções individualistas. Certa vez, conversando com o Lauro Lellis, um dos mais importantes e respeitados bateras e educadores em São Paulo, ele me disse que o arquivo do site vale ouro. Nesse momento percebi o que eu estava fazendo: muitas vezes podemos ler as idéias e conhecer os nomes de bateristas importantes, e todos os discos fantásticos que eles gravaram, mas não ouvir nada da música dele. O site OBaterista.com possibilita que as pessoas ouçam e vejam esses bateras tocando. E ainda guarda essa informação on line e disponível gratuitamente. Se eu conseguir manter o site no ar por mais algum tempo, ele pode até se tornar uma “baterioteca digital”, mais ou menos como o Drumerworld.com.

DB - O que representa este site para os bateristas brasileiros?

AC - Não sei responder isso! [Risos] Mas espero que o site represente um lugar, virtual que seja, onde todas as maneiras e vertentes de tocar bateria possam se encontrar e conversar livremente. Uma coisa que prezo dentro do site é o leque aberto, a diversidade (pra usar uma palavra da moda) que posso mostrar atráves dele. É só olhar o arquivo do site: no mesmo mês, há Celso de Almeida seguido de Jean Dolabella; Sérgio Gomes seguido Fernando Schaefer; bateras do jazz norte-americano e que tocam no Cirque du Soleil. 

 

DB - Quais suas projeções para o futuro do site?

AC - No futuro, espero que o site possa realmente tornar-se uma biblioteca digital da bateria brasileira, que os bateristas de todo o mundo possam entrar nele em busca de informações sobre nossa música, tão aberta e tão massacrada. Em algum momento pretendo avançar para a área didática e conseguir usar essa ferramenta como um meio de ensinar algo aos bateristas, e permitir que pessoas de qualquer lugar do mundo tenham acesso ao nosso fantástico universo baterístico.

 

DB - De que forma você pensa que os bateristas brasileiros poderiam se ajudar e dividir experiências?

AC - A internet é uma coisa que me fascina e assusta ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo em que é o espaço perfeito para promover a troca de experiências, difundir um aprendizado saudável, colaborativo e democrático, é também campo fértil para a proliferação de ditaduras individuais. Talvez esse seja o maior de todos os desafios dos usuários de internet: entender que toda opinião deve ser ouvida e analisada, e que é preciso estar aberto para outras idéias e pontos de vista. Ninguém é dono absoluto da verdade, mas há muita gente que toma a atitude ser. No meio acadêmico há o conceito do caminho das idéias. No primeiro momento temos a tese, isto é, a idéia que se apresenta; então alguém propõem uma antítese, uma crítica, algo que se contrapõe à primeira idéia; do conflito entre estas duas idéias sugirá a síntese, isto é, o melhor das duas idéias será combinado, sintetizado numa nova idéia. É claro que houve um conflito ali, mas o conflito deve ser entendido como algo positivo, um conflito de idéias, não físico ou pessoal. O conflito é a única maneira de se criar algo novo. Pode parecer estranho isso que digo, mas pergunte ao Nenê (Realcino Lima, que tocou com Elis, Hermeto, Egberto, etc.), ele concorda comigo. Ele é o cara que defende que a concorrência é muito importante dentro da música. É o que nos faz evoluir.

 Eu enrolei tudo isso aí pra dizer como os bateristas podem se ajudar na rede, mas o conceito está aí. É preciso cabeça aberta e a disposição pra dialogar, pra expor e defender idéias. Isso vai produzir melhores frutos dentro dos fóruns, dos sites especializados, vai elevar a qualidade do que falamos e fazemos e mostramos nas comunidades on line, nos espaços que encontramos pela rede.

 

 DB - Que recado você gostaria de deixar para os bateristas iniciantes e iniciados?

 AC - Meu recado é o seguinte: Bateras, mais importante do que dominar a técnica, que saber como tocar, os meios de se usar o instrumento e as mãos e o corpo, mais importante que tudo isso é ter algo a dizer. Se há um cara que respeito sentado atrás da bateria hoje é Alaor Neves, e ele fala exatamente isso: pra ser um bom músico, você precisa ter algo a dizer. Muito bonito o seu Moeller, fantástica sua velocidade, muito legal sua técnica, mas elas são o meio, não o fim. Elas não significam nada. Estudar é importante, mas mais importante é viver! Mais importante é ter algo significativo sobre o que falar através de sua música. Saiam dos estúdios e vão jogar bola, procurar mulheres, surfar, roubar flores, ler livros, assistir bons filmes, jogar conversa fora, ouvir causos do seu avô, viajar, fazer qualquer coisa que gere assunto sobre o qual falar de trás da bateria! Nossa falta de assunto atrás da bateria está criando uma geração de músicos vazios, que não sabem fazer sua música significar algo. Isso me assusta muito, mas tenho certeza que não estamos no fundo do poço, e que este não é o fim do mundo. Ainda há tempo para reagir e criarmos coisas interessantes.

 

Agradeço ao André por essa entrevista e mais uma vez indico, visitam, conheçam e aproveitem todo o trabalho dele através do site O Baterista.com.

www.obaterista.com

Valeu!

 

DANIEL BATERA®

www.danielbatera.com.br

DANIEL UB

































1 Comentario

Fernando Casalecchi

outubro 30, 2011 @ 10:15 pm

Muito interessante a entrevista. A última resposta dele com certeza serve de exemplo para muitos batéras que estão iniciando, como eu.

O site hoje tá excelente, com bom conteúdo. Fico feliz em conhecer a cada dia que passa mais sites totalmente dedicados aos batéras, disponibilizando de graça coisas que, há anos atrás, teríamos de fazer um tremendo esforço para conseguir.

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